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Um pouco mais sobre o GRUPO DE MOVIMENTO (GM)

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Os conceitos desenvolvidos por Wilhelm Reich ao longo de seus estudos de alguma forma comprovaram a integração mente e corpo, apreendendo o homem como uma unidade funcional soma-psique. Conforme ele avançava em suas pesquisas e em seus atendimentos, convencia-se de que “‘o inconsciente’ de Freud está presente e é concretamente perceptível sob a forma de sensações e impulsos do meio vegetativo” [itálicos do autor] (REICH, 1942/1978, p.63).

Foi a partir dos estudos de Reich que brotaram as sementes do que hoje conhecemos como a psicoterapia corporal. As linhas da psicologia corporal abarcam a Bioenergética de Alexander Lowen (1910-2008), a Biodinâmica de Gerda Boyesen (1922-2005), a Psicologia do Processo Formativo de Stanley Keleman e a Biossíntese de David Boadella. As técnicas do GM (GRUPO DE MOVIMENTO) englobam essas linhas da Psicologia corporal e, principalmente, têm como eixo fundamental toda Psicoterapia Reichiana.

No Brasil, destacou-se o trabalho do psiquiatra José Gaiarsa e de Roberto Freire, a partir da década de 1960. Gaiarsa, médico psiquiatra, foi o introdutor das técnicas corporais no país e criou os “Grupos sem Palavras”, cujos encontros eram fundamentados pela comunicação estritamente não verbal e os terapeutas assumiam o papel de facilitadores, com a intenção de promover formas de contato, ajudando na desinibição e interação grupal (GAMA; REGO, 1996).

De acordo com Nogueira (2010), a Somaterapia de Freire, conhecida como Soma – baseada na teoria reichiana, Gestalt-terapia e princípios anarquistas –, centralizava suas ações no resgate do prazer, da liberdade, da singularidade e da autorregulação do indivíduo. Já na década de 1990, Freire inseriu a capoeira angolana em sua metodologia, admitindo essa forma de “luta” como uma potente prática para a mobilização energética, bem como um instrumento que auxiliava na compreensão de forma metafórica os enfrentamentos que cada um tem em sua vida cotidiana e em suas relações com a vida emocional.

No fim da década de 1970, Regina Favre, percussora e tradutora dos conceitos da Psicologia do Processo Formativo no Brasil, mas que também tivera contato com as ideias de Lowen, Boyesen e com o próprio Gaiarsa, propôs uma forma de trabalho que integrava elementos dessas várias abordagens. E foi exatamente o desenvolvimento criativo e a incorporação de outras técnicas, dentro do trabalho de Favre, que acabou por gerar uma proposta inovadora e que se tornou a base dos Grupos de Movimento, em São Paulo.

Entretanto, o nome Grupo de Movimento, atribuído pela própria Regina Favre, tal como o empregamos hoje, tornou-se um termo genérico, abrangendo todas as técnicas corporais que podem complementar a psicoterapia corporal. Assim, é possível compreender esse trabalho como um “work in progress” diante da necessidade de sempre criar novas estratégias (NOGUEIRA, 2010).

Depois, Favre passou a denominar seu trabalho como Grupo de Movimento Somático-Existencial, cujas linhas teóricas principais e norteadoras são a Educação Somática de Stanley Keleman e a visão do inconsciente produtivo de Deleuze e Guattari.

Na década de 80, outros psicoterapeutas reichianos (Sandra Sofiati e Marcelo Carvalho) ampliaram essa atividade, desenvolvendo novos estilos e possibilidades, contribuindo para sua expansão e popularização. A partir da década de 90, o Instituto Sedes Sapientiae introduz o método em sua “grade” com Ercília Gama, sistematizando o projeto das 8 sessões (1. Apresentação, aquecimento, respiração; 2. Respiração, pés e pernas; 3. Pés e pernas; 4. Pelve; 5. Tronco e braços; 6. Cabeça e pescoço; 7. Trabalho integrado com o corpo; 8. Encerramento) e, assim, há o início da formação e supervisão de coordenadores de GM.

Porém, Gama e Rego (1996) esclarecem que essa sequência das 8 sessões pode ser pensada de outra forma, iniciando o trabalho pelas extremidades ou mesmo como era proposto por Reich, seguindo o desenvolvimento psicossexual da libido, isto é, focalizando primeiramente os olhos, boca, pescoço e, depois, tórax, diafragma, barriga e pelve. Para os autores, são inúmeras as possibilidades, dentro do GM, o mais importante é o coordenador sempre ter a ideia de totalidade do corpo, concentrar-se nas partes sem perder sua integração. Dentro desse modelo, as sessões de um grupo dividem-se em três momentos: aquecimento, desenvolvimento e fechamento.

Assim, hoje, o Grupo de Movimento pode ser definido como uma estratégia de intervenção grupal oriunda da psicoterapia corporal e que consiste em proporcionar às pessoas vivências corporais que ajudem a amenizar as tensões físicas e emocionais, com o intuito de favorecer, de acordo com Gama e Rego (1996), a percepção de si, a vitalidade, o bem-estar e a expressividade:

É também um trabalho preventivo, psicoprofilático, pois dá ao indivíduo a possibilidade de um autoconhecimento através da própria linguagem expressiva do organismo, dificilmente traduzível em palavras. Caminha-se, assim, em direção à espontaneidade e à descarga energética e emocional (GAMA; REGO, 1996, p. 18).

A versatilidade do Grupo de Movimento faz com que não haja qualquer restrição a nenhuma faixa etária, podendo o terapeuta adaptar a sequência aos participantes. Com o cuidado necessário para não promover mobilizações psíquicas profundas, o Grupo de Movimento pretende contribuir para o alívio e consciência das tensões corporais e emocionais, possibilitando um espaço e um tempo para que as pessoas se percebam, sintam-se, acolham-se e sejam acolhidas.

O Instituto Raiz também vem desenvolvendo Grupos de Movimento há mais ou menos 10 anos, e conta com a Psicoterapia de Reich como suporte e pesquisa para a elaboração e criação das dinâmicas do GM. Hoje, na cidade de Araraquara (SP), o Raiz tem despontado como pioneiro nessa técnica a partir de uma orientação sólida e com o apoio de profissionais qualificados para coordenarem os grupos.

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