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Tempo, trauma e suicídio: o percurso da dor no desenvolvimento emocional

“As pessoas cometem suicídio cada vez mais”, assim demonstram os veículos de comunicação com a exposição de gráficos anuais. O assunto é ainda penoso, tabu, vergonhoso. Cometer suicídio é visto como um fracasso pessoal e ou familiar, no máximo. Está para o horror injustificável, beira o absurdo, paira o inconformismo. Porém, isto é um “recurso” de nosso sistema emocional (que inclui o biológico e social) e tal sistema de funcionamento é comum a todos nós. Claro que nem todos cometerão suicídio, mas o que nos “separa” uns dos outros é tênue, uma barreira frágil tal qual um plástico transparente, um tecido bem fino. Qual é a dimensão da dor para cada um? Como ela se desenvolve e nos afeta? A nós todos.

A obra, A redoma de vidro (1963), da poeta norte-americana, Sylvia Plath (1950-1962), fala sobre a “turva” trajetória da jovem Esther Grenwood. Esther, bolsista de uma ótima universidade dos EUA, está entre as eleitas a um estágio bastante promissor numa editora, na cidade de Nova York. A estadia que, a princípio, seria uma realização para sua formação cultural e profissional acaba desvelando uma dor existencial que a coloca no que ela mesma chama de “redoma de vidro”, dentro da qual o mundo passa a ser visto com cores desbotadas e caóticas. A partir daí, Esther é assombrada pela ideia da morte pelo suicídio.

O tom do relato é mordaz e irônico e deixa entrever ao leitor a tristeza em “suspensão”, como uma fantasma permanente; tal qual quando ela narra o choro tardio pela morte do pai. A perda do pai que não pode ser “chorada” aparece como uma  ferida encoberta – talvez não a única – que precisa ser descortinada para que a vida possa seguir. A suposta frieza e apatia são os recursos encontradas para sobrevivência, mas que também levam ao desespero. Esta obra é inspirada na vida da própria escritora, Sylvia Plath, que cometeu suicídio aos trinta anos de idade. O relato de Esther, a personagem, em verdade, seria o início do drama que assolou a própria autora, ceivando uma vida produtiva e sensível.

Albert Camus, para falar sobre o suicídio, remete-se ao mito de Sísifo, que foi condenado pelos deuses a empurrar incansavelmente uma pedra até o alto de uma montanha, de onde a mesma voltava a cair e assim ele repetia sua jornada exaustiva. Assim também seria o trabalho do proletariado: alienante e penoso, envolto no absurdo e na irrealidade da cultura moderna. A falta de sentido das coisas, então, cooperaria para o suicídio. Durkheim, em Suicídio, associa a ideia ao nível de riqueza de uma nação. Quanto mais ricos mais exigidos somos e a ideia de fracasso, nestas sociedades, é imperdoável, pois está intimamente ligada à meritocracia e ao individualismo, isto é, à perda da noção de comunidade em que tudo está interligado e todos (inclusive os deuses, a natureza) são responsáveis pelos acontecimentos.

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A ideia de tirar a própria vida não é computada no corpo físico / biológico e emocional de alguém da noite para o dia; há, antes, um percurso da dor que tem suas origens no trauma. Já, neste momento, ocorrem cisões de tempos e emoções que ficarão registradas na formas de sentir, de se expressar e de se desenvolver emocionalmente. A evolução da dor que se recombina a outros tantos fatores sociais pode ser uma resposta aos porquês do suicídio.

Entender o funcionamento do mecanismo do suicídio é compreender o funcionamento emocional humano e, portanto, fundamental para todos nós. Por isto, o Instituto Raiz lançou a videoaula Tempo, Trauma e Suicídio, na tentativa de esclarecer e simplificar esta questão, de forma leve, didática e autoral.

Inspirada pela Psicoterapia de Wilhelm Reich, Susana Zaniolo Scotton demonstra, por meio de uma analogia teórica, intitulada “A dobra do tempo”, como se dá o percurso do trauma até o suicídio, procurando complementar, a partir de outro ponto de vista, com o vasto arcabouço teórico a respeito do assunto.

Felizes e honrados com mais este projeto e sabendo da relevância do assunto, convidamos vocês a juntarem-se a nós enquanto corpo discente deste mais novo curso.

Equipe Raiz

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