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O luto do não acontecido

(Imagem de Van Gogh, 1888 – Willows at Sunset)

Rondó do Capitão

(Manuel Bandeira)

 

Bão balalão,

senhor capitão.

tirai este peso

do meu coração.

não é de tristeza,

não é de aflição:

é só esperança,

senhor capitão!

a leve esperança,

a área esperança…

área, pois não!

peso mais pesado

não existe não.

ah, livrai-me dele,

senhor capitão!

 

Frequentemente nós nos vemos perante um sonho que não se realizou, mas que também é incapaz de não abandonar seu lugar em nosso coração. Gravado em nossa memória como se fosse cena real e perdida, mantem-se presentificado tal qual um silêncio entristecido por algo que tinha tudo para acontecer, que poderia ter dado certo, mas que não deu.

O luto do não acontecido não está incluso na nossa narrativa “oficial”; fica como uma presença silenciosa e poderosa, estabelecendo-se como uma insatisfação e, por mais que as coisas tenham dado certo em alguma medida, o resultado não foi o esperado e sonhado em sua essência.

Uma mãe com um filho sindrômico, para ser ajudada de fato, precisa antes se despedir do filho “perfeito” que não nasceu. Ou, então, um pai cujo filho não sabe jogar futebol… é preciso antes se despedir do filho atleta que não nasceu. E assim a vida pode vir a ser carregada de pequenos fantasmas que assombram a realidade.

Por isso, a importância de se construir uma narrativa, outra narrativa, que possa dar voz a estas presenças sombrias – veja, não se trata de resignação ou aceitação – para que cada uma destas presenças possam ser finalmente descoladas da cena real.

Por Susana Zaniolo Scotton.

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