Pular para o conteúdo

Construindo a identidade: A Sexualidade Infantil e o Papel do Adulto

Imagem: “O coral das crianças”, de Portinari.

Nessa fase, entre os 5 e os 6 anos de idade, a criança se vê envolta por seus desejos egocêntricos e o mundo real, social, feito de limites, normas de convívio. Por isto, no ambiente escolar, a figura do professor deve funcionar como uma referência e, por meio do vínculo com ele, a criança pode expressar todo esse conflito, na medida em que é acolhida em suas dúvidas e angústias.

Isso também inclui a sexualidade em desenvolvimento. As experiências com o próprio corpo, como fonte de prazer, o corpo do outro, que é diferente do seu, que gera curiosidade e “experimentações” (como as brincadeiras em que tanto meninos como meninas encarnam diferentes papeis de pai, de mãe, etc.) devem ser vistos com naturalidade pelo adulto (pais, mães e mestres). As orientações aí também devem ser respeitosas, de forma a acolher as dúvidas e orientar, de acordo com as condutas sociais de proteção.

A proteção deve servir de guia para o adulto com o intuito da criança não se machucar ou machucar outrem, de não se “expor” ou expor o outro. Mas a orientação, se possível, neste caso, deve perder a conotação repressiva. Afinal a criança não tem a compreensão de tudo o que a sexualidade implica em nossa cultura. Para ela, é natural, é descoberta e nada mais justo do que tratar o ser em desenvolvimento, com o frescor das novidades, de forma branda, gentil e acolhedora.

Conhecer o próprio corpo, é importante! Saber-se diferente e igual é fundamental para o crescimento. Mas não vale se machucar… a intimidade deve ser resguardada e protegida. O amor entre os amigos é saudável, natural e excitante. O olhar do adulto acolhedor, cuidador, deve ser de respeito pelo afeto entre as crianças, sem “adultizar”, sem “sexualizar” e sem reprimir. Se passar dos “limites”, orientação com amor. Olhos nos olhos e tom ameno. É possível ser firme com ternura.

O adulto cuidador pode confiar na natureza humana primordial, biológica, em que a sexualidade, vivida de forma saudável, é uma energia vital, capaz de regular o organismo, capaz de promover sentimentos e sensações de amor, de compaixão, de satisfação. Neste sentido, os esforços serão mais bem sucedidos se forem capazes de “dar contorno” e proteção à sexualidade que se desenvolve.

As crianças, nesta fase, vivem um momento bastante especial e, muitas vezes, ficam em constante tensão e, portanto, precisam encontrar um lugar que as assegure com acolhimento ao mesmo tempo as encorajem para a vida. Esse lugar é geralmente, a própria casa, o ambiente familiar, com os entes queridos, em que ela pode manifestar suas fraquezas, seus medos, suas demandas.

A escola também pode ser um espaço no qual ela encontrará amparo por meio da figura de um professor com capacidade de acolhê-la e incentivá-la em sua autonomia. Neste momento de inserção na cultura, momento maravilhoso, mas que gera temores, a escola pode ser um local de primeiras experiências sociais enriquecedoras e que, assim, proporcionarão escolhas saudáveis futuramente. A escola deve priorizar a criatividade ao invés do cognitivo. Caso contrário, corremos o risco de perder a expressão ímpar e essencial em potência plena do sensorial e do criativo.

Por isto, o trabalho e o esforço devem ser conjuntos, agregados, em consonância na medida do possível. Somos todos aprendizes nesta jornada. A criança nos ensina sobre nós, sobre nossa educação, sobre nossos temores, sobre nossa sexualidade. Olhemos para ela e olhemos para nós. O desafio instigante da vida passa sempre pelo processo de desenvolvimento no qual nos identificamos com elas, com nossos pares e semelhantes. Trabalhemos em conjunto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *