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Atitudes que fazem toda diferença na Liderança

Uma árvore frondosa, com sua copa cheia e longos galhos, parece imóvel no terreno. Admirada, serve como sombra e descanso para os que estão à sua volta. Tem participação na vida natural, atua produtiva e provedora quando chega também a época de dar frutos. Os que podem colher suas dádivas, a apreciam, nutrem-se.


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Por seu mérito e sorte, você está numa posição de liderança. A sonhada função de liderança foi conquistada, seja no trabalho seja na família seja na vida adulta tão almejada. Seja em todas estas funções ao mesmo tempo! A vez do líder chegou. Cargo sonhado pela posição de prestígio, de poder, por ter a ver com competência. Há um universo imagético e simbólico que coopera para a construção desta imagem.


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A grande árvore tem muita vida dentro dela. Sofre tal qual as outras plantas e bichos com as intempéries da natureza, com a vida humana que se aproxima cada vez mais com suas demandas. Por sua altura consegue, inclusive, mirar o horizonte e ver que muita coisa se aproxima de seu terreno. Ela segue firme e “impassível”. Prevendo circunstâncias que a preocupam, ela se angustia por dentro, mas, para os de fora, é como se nada acontecesse. Ela continua frondosa.


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Para seu azar, você está numa posição de liderança. O líder tem que lidar com preocupações e angústias tanto de sua vida íntima como de sua vida profissional de maneira que permaneça focado em sua liderança.

Se ele se angustia, se ele se preocupa, cabe a ele procurar recursos para se aliviar e para tentar resolver e lidar com as mesmas. O grupo liderado, dentro do possível, não deve ser o depositário de suas frustrações. Seja na vida doméstica, seja na vida profissional.


Ao contrário, ele deve fazer valer a intempérie para reencontrar seu eixo. Assim, a raiva, por exemplo, pode ser transformada em foco, em pontualidade. Uma raiva que evolui para a potência.

A angústia para um fazer preventivo, para uma atenção maior a determinado aspecto que apresente alguma exigência. A angústia que precede a produção e a criação deve ser aceita.

Fazer a tristeza virar ternura e empatia. Até a alegria e a euforia devem ter seu direcionamento para não inundarem, mas para possibilidade de alívio e comemoração.


O líder é humano e se desequilibra. Por isso, a liderança não deve ser solitária. Por isso, ele tem que investir em si para poder se equilibrar. Tem que reportar e pedir ajuda noutras instâncias que poderão acolhê-lo se possível.


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Se a grande árvore tem um de seus galhos afetados e se só a ele dá atenção, sua energia e esforços se voltarão para lá e ela terá seu tronco e base desestruturados. Ela busca seus forças e nutrientes em sua raiz, cabe ao tronco ajudá-la a abastecer e sustentar para nutrir galhos que lhe darão, folhas, flores e frutos.


Assim, o líder deve ter uma base em si e em seus propósitos. A realização da tarefa baseada em seu cabedal ético que condiz com preceitos de um determinado ambiente deve ser seu norte. Dentro do possível, o líder se torna o representante e a memória dos “porquês” e “comos” de um grupo. Assim, cabe a ele nortear para além de seus humores, irritação, frustração, cansaço.


Depois de um tempo, o líder desistiu de alguns dos seus sonhos individuais, já se cansou mais que todos e já foi colocado à prova inúmeras vezes. Já se sentiu testado sem que isso fosse tomado como ofensa. Ele entendeu que a liderança de fato não tem a ver suas necessidades satisfeitas todo tempo, mas com a regência de suas questões e do grupo. A sua função não está pareada com seu narcisismo necessariamente, mas com sua capacidade de se responsabilizar por algo.


O líder começa a ver graça, alegria de sua vida na tarefa que dirige junto ao grupo; no esforço de manter o grupo coeso, de cuidar dos seus, de ser essa grande referência de memória e da justiça.

O grupo, no líder, pode voltar para a vida nutrido. Ele entende que, independentemente de seu cargo e de quem são seus liderados, o exercício é de aprendizagem.

Ele não é o grande sabedor e talvez não seja o grande expert da equipe para todos os casos, mas é o tronco, é o apoio, é a grande mãe e o grande pai – mesmo em equipes auto gerenciáveis é preciso de um norte e de um alinhamento.
Esse líder memória está acima da sedução. A sedução, aqui, em não dizer o que se espera do outro e deixá-lo na angústia para que, dessa forma, sobre para ele, o liderado, o esforço de seduzi-lo e agradá-lo todo tempo. Pelo contrário, o líder vê o alinhamento e o direcionamento como possibilidade de afeto. Esse afeto certeiro, justo e claro que a boa aprendizagem compreende. A liderança pressupõe essa aprendizagem, que está no exercício da tarefa, que está na possibilidade de executá-la. Na alegria de ver o outro se desenvolvendo ao executar.


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Para manter o equilíbrio numa ventania, a árvore encontra suporte em seu tronco e raízes. Se estiver voltada para alguns ou um de seus galhos, ela se desequilibrará.
Sua força vem do seu amor por sua tarefa. Ela encontra alegria nesse trabalho de equilíbrio e nutrição – ela encontra alegria em sua maturidade, em seu organismo biologicamente maduro. É, em verdade, por aí que ela também se nutre; já destituída de seus sonhos de planta pequena de ser grande para se ver livre e admirada, ela se esmera agora de ver como os galhos se desenvolvem e os frutos amadurecem e caem para outros virem.

Ela desistiu de si para nascer novamente grande e capaz de nutrir.

Susana Z Scotton

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