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A vida antes e depois do amadurecimento

Imagem: “A persistência da memória”, de Salvador Dali (1931)

Neste texto, faremos um paralelo entre a vida antes e depois do amadurecimento, a partir da Psicologia Corporal, buscando entender como as sensações de espaço e tempo podem ser orientadas pelas nossas sensações e percepções da vida.

O adolescente, geralmente, é muito reativo, pois ainda é muito “comandado”. Isto faz com que ele seja mais submetido às regras paternas. Sua vida, neste sentido, é regida pela pressão social, pelas expectativas parentais, pelas suas afinidades, mas também pela adequação de seus desejos. Aqui a vida é estreita, mas “infinita”, com a sensação de que se tem muito tempo ainda pela frente. Há uma sociedade que deseja e enaltece a juventude e se esquece de suas limitações e consequente sofrimentos.

Depois do amadurecimento, a vida fica mais curta; a pessoa já computa a presença da morte; já tem noção de finitude. Provavelmente, nesta época, ela já sofreu perdas dolorosas, tendo que se contrair e se expandir em função destas perdas. Ela passa, então, a funcionar de uma maneira menos congelante e mais pulsante e, a partir daí, a vida lhe parece curta, porém larga.

A vida, depois do amadurecimento, possui a intensidade dos encontros, a intensidade da amorosidade. A paciência é experimentada de forma amorosa. Se na juventude, vivemos 10 anos com experiências diversas, mas limitadas; na vida madura, vivemos um ano que equivale muito, porque há uma expansão sensorial maior em relação ao que é vivido.

A sexualidade na juventude é longa em possibilidades, expande-se em quantidade de experiências. Na maturidade, a sexualidade é vivida na qualidade do encontro com o outro. O movimento é mais lento, o toque é mais emocionado, ou seja, a emoção é aprofundada. É possível viver uma experiência de descongelamento, da expansão das sensações a partir de ondas líquidas e calorosas, possibilitando o conhecimento, a expressão e a vivência do que é a ternura.

Mas, estamos falando da maturidade que só ocorre com a entrega para as próprias emoções. Trata-se da experiência do medo circulando no organismo e nos protegendo da morte; da tristeza percorrendo e nos acompanhando a cada alegria; da excitação que garante a angústia numa promessa de alívio e da raiva como uma experiência de dignidade – não de destrutividade – ou seja, da possibilidade de ser feliz mesmo que triste, mesmo que com medo, com raiva e com uma excitação aceita pelo corpo e pela alma.

O organismo velho que está apenas investido em parecer nobre não tem necessariamente a experiência da nobreza do encontro amoroso e da sabedoria. O amor está no seu discurso e não está em sua experiência. Notamos isto quando as pessoas se consideram maduras e amorosas, mas os outros ao seu redor, como os filhos, por exemplo, não experimentam esta amorosidade.

A velhice, quando coroada pela maturidade, pode ser o resultado reconciliador da juventude, que, mesmo cheia de energia e desejos, pouco pôde vivenciá-los na inteireza de seus aspectos. Pensar que a dor e a perda podem ser não o que nos fragmenta, mas o que nos reconstrói, dando, ao processo vital, outras possibilidades. 

Susana Zaniolo Scotton

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