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A pessoa tímida e o vazio de tristeza pela óptica da Psicologia Corporal

imagem de Georgia O’Keeffe

Aquela pessoa mais tímida, que costuma estranhar lugares e estranha até mesmo emoções, que é mais fechada, é, geralmente, acometida por um congelamento da pulsação vital, devido à experiências singulares que a acometeram logo no útero materno ou mesmo nos primeiros momentos de vida. Esse “congelamento” é entendido, na Psicologia Corporal, por uma contração orgânica até maior do que uma tensão muscular propriamente dita, até por que, não havia ainda uma construção muscular efetiva quando ela viveu tais experiências – não havia possibilidade de construção de defesas psíquicas e corporais.

A contração se assemelha a um bloqueio tal qual uma solidão dentro de si mesmo que gera uma paralisia da vida no corpo. A energia tende a subir para cabeça ao invés de se distribuir pelo corpo. A contração pode ser a responsável por um controle excessivo de si mesmo, por uma crítica mordaz em relação a si e aos outros.

A vida passa a ser muito mais imaginada e pensada do que vivida propriamente. A respiração tende a ser menos expressiva e os movimentos menos espontâneos. Os sentimentos e as sensações são também menos perceptíveis, isto é, há maior dificuldade de se entrar em contato com os mesmos. Muitas vezes, ela não se reconhece como um igual, como alguém que comunga dos mesmos medos, alegrias, etc. que os outros. É como se ela não tivesse se “experimentado”, como se a “alma” não tivesse esbarrado nas paredes de carne do corpo. Como se ela ainda estivesse perdida nas entranhas do seu corpo sem a possibilidade da elaboração metabólica e muscular de um organismo maduro. Ela é um estranho em seu próprio ninho – seu corpo.

A paralisia que impede a pulsação vital plena pode ser responsável por uma melancolia constante. Mas, a tristeza que parece ser o sentimento preponderante é ofuscada pelo vazio e não é, por isso, sentida propriamente.

Geralmente, quando falamos em angústia, falamos em dor no peito, aperto, tensão, porém a pessoa mais tímida pode ter uma depressão vazia de tristeza. Pode parecer um paradoxo, mas a depressão pode ser exatamente a dificuldade de se entrar em contato com a emoção – a própria tristeza em si.

A consequência disso é um desgaste energético e uma massa corporal pouco fluida que acaba gastando muito tempo e energia para tentar compreender o que sente corporalmente, emocionalmente e o que de verdade sente em relação à vida.

O esforço em compreender (esforço intelectual) dificulta a familiarização da vida interpessoal. Há uma vida interior que pouco se comunica com o mundo e que também se desconhece…

A pessoa tímida guarda em si um potencial de sensibilidade muitas vezes ainda a ser explorado tal qual uma flor esperando para ser desabrochada.

Susana Z. Scotton e Fabiana A. R. de Almeida

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