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Kraken: o monstro que nos habita
Texto de Susana Z Scotton
Parece-me que a velocidade dos acontecimentos, das relações, dos movimentos físicos, do que ocorre na nossa mente quando estamos parados até mesmo a alta velocidade dos medos, das negações durante a pandemia podem ser interessantes pontos de partida para a construção de um pensamento que leva em consideração o conhecimento a partir da sabedoria e não da inteligência e esperteza.
Fazendo um paralelo com a mitologia nórdica, ressalto a lenda do Kraken, a besta marinha, um cefalópode que tem o tamanho de uma ilha, que surge de águas profundas com seus 100 tentáculos – uma espécie de lula gigante – capaz de afundar embarcações e devorar tripulações.
Há no fundo de cada um de nós uma forma de Kraken que tem uma inteligência primitiva e quem sem dúvida nenhuma se move ou paralisa ou fica em repouso dependendo dos nossos movimentos e das nossas relações com o outro.
E reconhecer que sempre que estivermos diante de uma outra pessoa ou até mesmo de uma pessoa que represente uma instituição é aconselhável que lembremos dessa presença primitiva e submersa que nos habita e reconhecer essa presença parece que ser a única chance de não ser devorado.
Essa consciência é necessária para curar a ingenuidade e nos colocar numa visão de 360 graus dos acontecimentos.
Reza a lenda que a fúria do Kraken servia aos que desrespeitavam o mar, isto é, quem ofendia o curso natural da vida.
O Kraken nem sempre faz ataques diretos, mas promove movimentos circulares em volta da embarcação, criando um redemoinho, um vácuo que a leva às profundezas.
Na vida, há o perigo de acelerarmos demasiadamente os acontecimentos de forma que a velocidade – ansiedade – criada se transforma em armadilha para nós mesmos e que nos sugam em direção às nossas vísceras (inconsciente), lugar onde experimentamos os nossos medos mais profundos e mais importantes, criando uma atmosfera de angústia e de impossibilidade.
A aceleração do movimento circular do Kraken está para os nossos giros vertiginosos de pressa e de ânsia por novidades e para que as coisas aconteçam, desrespeitando o curso natural da vida que tem um ritmo próprio. A pessoa desconectada do seu corpo das sensações físicas e das emoções corre o risco de perder nesse redemoinho
Dentro do processo analítico e a partir do lugar de analista clínica em que me encontro a velocidade e o ritmo da fala do paciente simbolizam a ameaça ao encontro patológico que deve ser evitado, produzindo gestos, palavras, timbre, que favoreçam a desaceleração e o encontro verdadeiro com o si.
Na vida, há o perigo de acelerarmos demasiadamente os acontecimentos de forma que a velocidade – ansiedade – criada se transforma em armadilha para nós mesmos e que nos sugam em direção às nossas vísceras (inconsciente), lugar onde experimentamos os nossos medos mais profundos e mais importantes, criando uma atmosfera de angústia e de impossibilidade.